terça-feira, 5 de março de 2013

Tema 7

O LIVRO DO Apocalipse
                                                                                                                                                                                                                                                                                 Dr. José Carlos Ramos
março de 2013
                                                                                                                                    

            Apocalipse de João, o título pelo qual o último livro da Bíblia é conhecido, é uma indicação de seu escritor: o apóstolo João. Mas é impróprio quanto à procedência, natureza e propósito de sua mensagem. O termo grego apokálupsis significa revelação, e João não foi o autor dela, mas apenas o instrumento para que a ela chegasse até nós. “O que vês,” foi-lhe dito, “escreve em livro e manda às sete igrejas” (1:11). Tais palavras identificam o escritor como alguém dotado com o dom de profecia e assim suficientemente capaz para receber e comunicar a revelação. Caracterizam também o conteúdo da revelação como essencialmente profético e destacam seu caráter transcendental e divino.
            Nada no livro expressa a simples opinião do escritor. Cada coisa exibe o sinete celestial, mesmo aquelas expressões brotadas do mais íntimo de seu ser, como a oração e bênção conclusivas (22:20, 21). Tudo é de dimensão supra-humana, pois João, a exemplo dos demais profetas, falou “da parte de Deus” movido “pelo Espírito Santo” (2Pd 1:21).
            O Apocalipse é de origem divina como qualquer outra parte da Bíblia, mas apresenta singularmente o trato de Deus com o pecado. Através de sua mensagem podemos divisar a mão de Deus dirigindo o curso da História rumo ao cumprimento completo e final de Seu propósito salvífico. A revelação de solenes eventos no Céu e na Terra, conforme exposta no Apocalipse, retrata o largo escopo da redenção, salientando o triunfo total de Deus no milenar conflito com o mal. Sua mensagem centralizada na cruz alcança seu grande clímax com a completa extirpação do pecado e o estabelecimento final do reino de Cristo na Terra.

De Deus Para Seu Povo

            Certamente as três pessoas da Trindade participaram na formação de toda a Bíblia, mas no que toca ao Apocalipse esse fato é explicitamente declarado. A saudação introdutória, dirigida ao povo de Deus, procede do Pai, identificado como “Aquele que é, que era, e que há de vir”; procede também “dos sete Espíritos que se acham diante do Seu trono,” o que pode ser tomado como uma manifestação do Espírito Santo em Sua plenitude, e “de Jesus Cristo, a fiel testemunha” (1:4, 5). O Pai provê a revelação, o Filho a comunica, e o Espírito Santa capacita o homem a recebê-la e compreendê-la.
            O verso de abertura revela o título correto do Apocalipse e o processo por meio do qual a revelação se tornou efetiva: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus Lhe deu para mostrar aos Seus servos as coisas que em breve devem acontecer, e que Ele, enviando por intermédio do Seu anjo, notificou ao Seu servo João.”
            Os elementos que formam esse processo devem ser observados na seguinte ordem:
            Deus - fonte original da revelação. Cada coisa procede dEle.
            Jesus Cristo - o Agente da revelação. Esta é feita por Ele e nEle. Sem Jesus a revelação não é revelação, pois permanece oculta na mente divina.
            Anjo - mensageiro da revelação.
            João - recipiente da revelação e instrumento humano para levá-la aos destinatários.
            Seus servos - a Igreja, o destino final da revelação. A Igreja é assim denominada porque possui o dom de profecia. A palavra “servos” designa os profetas (Am 3:7), a exemplo de João, o escritor (Ap 10:7; 11:18). Todavia, a Igreja não deve guardar a revelação para si, mas estendê-la ao mundo (10:11; 22:17).
            O Espírito Santo não é explicitamente mencionado aqui, mas Sua atuação no processo é fora de questão. O transe profético que sobrevem a João (1:10; 4:1, 2; 17:3; 21:10) é obra do Ser divino. Além disso, o Espírito Santo contribui de Si mesmo com particularidades da própria revelação (2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13, 22; 14:13; 22:17).

Revelação de Jesus

             O Apocalipse declara-se como “a revelação de Jesus”, pois Cristo é o meio da Verdade ser revelada ao mundo. Desde o princípio é Ele o mediador entre Deus, Aquele “que habita na luz inascessível” (1Tm 6:16) e a inteira criação. O escritor do Apocalipse entendeu esse fato e aplicou a Jesus o termo grego logos, verbo, palavra (Jo 1:1, 14; 1Jo 1:1; Ap 19:13) significando que Ele é a expressão e a concretização do pensamento de Deus. Portanto, o propósito divino, “desde os séculos oculto em Deus” (Ef 3:9), foi manifestado em Jesus e por Jesus, e se tornou uma “revelação de Jesus”. Jesus Cristo é a ponte que cobre a lacuna entre Deus e a Criação. Ele é, sem dúvida, o único caminho a Deus (Jo 14:6), e é também o único caminho para que o conhecimento de Deus e de Seu propósito possam nos alcançar (1:18).
            Assim as palavras “revelação de Jesus” são mais que o título do último livro da Bíblia. Elas condensam o conteúdo e o sentido essencial de sua mensagem, e apontam para Jesus como Aquele que revela e é revelado. Autoridades bíblicas em geral concordam que esta expressão contém um sentido subjetivo e também objetivo, isto é, Jesus é o sujeito tanto quanto o objeto da revelação. Para muitos o 1º sentido é preferível, considerando que o v. 1 expõe o tema da revelação: “as coisas que em breve devem acontecer.” Parece, todavia, que, em vista do contexto mais amplo do Apocalipse e de todo o Novo Testamento, ambos os sentidos poderiam ter sido pretendidos. Diz o Dr. Ford: “porque este testemunho tem a ver com o futuro visto através da lente do primeiro advento e da cruz, é também uma revelação sobre Jesus.” (Crisis, vol. 2, pág. 238).
            Esta realidade do Cristo tanto revelador como revelado emerge quando uma apreciação geral do livro é feita. Três pontos principais devem ser notados:
            1. Antes que coisas sejam reveladas, o profeta desfruta uma percepção da pessoa do Revelador. Isto pode ser notado da seguinte forma:

ESQUEMA PROFÉTICO
A REVELAÇÃO DE JESUS         
Jesus Revelado     Coisas Reveladas
OBSERVAÇÕES
1. As 7 igrejas (l:9-3:22)
O Filho do Homem (1:9-20)
Mensagem às 7 igrejas (2:1-3:22)
Esta visão inicial da pessoa de Jesus introduz todo o livro e não só as 7 igrejas.
2. Os 7 selos (4:1-8:2)
O trono e o Cordeiro (caps. 4, 5)
Eventos na abertura de cada selo (6:1-8:2)
Embora no cap. 4 a figura central é Deus o Pai, o quadro se completa no cap. 5 com a visão do Cordeiro ao centro do trono divino.
3. As 7 trombetas (8:2-11:19)
O Anjo intercessor (8:3-5)
Eventos ao toque de cada trombeta (8:7-11:19)
Esse Anjo é Cristo, o único mediador entre Deus e os homens (I Tim 2:5). Ocorre outra visão de Jesus no interlúdio da 6ª para a 7ª trombeta (cap. 10).
4. Os oponentes de Deus: o dragão, a 1ª besta, e a 2ª besta (12:1-13:18)
A encarnação, e o triunfo de Jesus (12:1-12)
Operações satânicas (12:13-13:18)
Cap. 12 é o centro do  livro. Não é por acaso que a encarnação seja referida aqui pois a cruz é central na profecia.
5. Os 144 mil e as  mensagens dos 3 anjos  (14:1-13)
O Cordeiro com os 144 mil no monte Sião (14:1-5)
A última mensagem de advertência bem como de misericórdia é dada ao mundo.
A presença do Cordeiro com este grupo é significativa. Ademais, o que é dito sobre eles é verdade, antes de tudo, sobre Cristo mesmo.
6. Eventos finais com ênfase no julgamento contra Babilônia (14:14 -19:10)
Coroado e pronto para ceifar, o Filho do Homem aparece numa nuvem
A ira de Deus é derramada e Babilônia é condenada. Ecoa o regozijo no céu (14:17- 19:10)
Esta não é apenas uma simples cena da 2ª vinda de Jesus. O quadro conclui as  mensagens dos 3 anjos e introduz as cenas seguintes.
7. A consumação escatológica e a restauração de todas as coisas (19:11-22:5)
A 2ª vinda: o cavaleiro sobre o cavalo branco se chama Fiel e Verdadeiro,  Palavra de Deus, Rei dos Reis, e Senhor dos senhores (19:11-16)
A ceia das aves, o milênio, a extirpação do mal, a Nova Jerusalém e a Nova Terra (19:17-22:5)
A 2ª vinda de Jesus introduz o fim, que por sua vez abre caminho para a criação dos Novos Céus e da Nova Terra, o quadro final do Apocalipse.


            2. Cristo é o personagem central de todas as coisas reveladas. “Visível ou invisível, Ele está no centro de cada visão e confere a essência do sentido de cada proclamação.” (L. H. Hough, The Revelation of St. John the Divine, p. 366). É Ele que se dirige às 7 igrejas, que abre cada selo, que vence o dragão (símbolo do diabo) para que a Igreja possa triunfar sobre o mal, que derrama a ira divina sobre os ímpios, e que leva Seu povo para a glória. Nas palavras de H. M. Féret, “todo o livro é dominado pela pessoa de Jesus, e qualquer outro ensino é ligado a Ele como um raio ao seu luminoso foco.” (O Apocalipse de São João, Visão Cristã da História, pág. 61).
            3. A narrativa profética começa com uma visão gloriosa do Filho do homem (1:9-20), e é desenvolvida rumo ao ponto culminante: a restauração definitiva de tudo o que o pecado pôs a perder. A consumação de todas as coisas ocorrerá com a gloriosa revelação final e universal do Filho de Deus. Se a presença contínua de Jesus com a Igreja peregrina é assegurada ao vidente de Patmos na primeira visão e confirmada a seguir, na visão final o propósito último do evangelho -- a plena integração do homem na comunhão divina -- é definitivamente alcançado. A revelação final de Jesus introduz o tempo quando será possível dizer: “Eis o tabernáculo de Deus com os homens, Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles.” (21:3).

Um comentário:

  1. É amigo... No Éden nossos pais caíram no engano de Satanás sob a sutileza da primeira sessão mediúnica da terra, onde a maravilhosa serpente se tornou o canal da mensagem da derrota - Mas Deus então, sofre o golpe da separação de seus filhos - desistiu ele de querer estar com seus filhos? de maneira nenhuma - A graça se manifestou triunfante em cada passo da história do pecado - É surpreendente o fato de Deus ir em busca de Adão e Eva escondidos e envergonhados, tentando por seus próprios esforços se manterem na graça - Deus se compadeceu em ver isto, e ele mesmo fez a roupagem adequada e os vestiu - Que graça maravilhosa! Para o cerimonial no deserto Deus foi enfático em manisfestar o desejo de ficar ao lado do homem caído, e o santuário portátil apareceu - Os demais três templos construídos tiveram o mesmo propósito - É graça e mais graça em favor do homem em todo o percurso da Bíblia e de nossa história! É impossível ao homem caído discernir por completo toda a plenitude do amor de Deus - Nada a fazer a não ser aceitar, e se submeter à esta graça maravilhosa mano - Que maravilha, que a história de Deus com o homem é mais forte do que a história de Satanás com o pecador! Apocalipse chega a seu término com o cumprimento final do propósito de Deus em estar definitivamente com todos os filhos de Adão que aceitaram e confiaram no sacrifício de Cristo na cruz - Apoc 21:3 é a mais dura resposta de Deus a Satanás, e concomitantemente a mais excelente vitória de Cristo e Seu povo sobre o pecado e o originador do mesmo. Deus seja eternamente louvado, e você meu irmão José Carlos Ramos seja sempre e eternamente abençoado ao debruçar sua pena para escrever coisas tão confortadoras como está escrevendo em seu blog. Viva ao Clarim Profético! Que Deus seja glorificado! Robin.

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