sexta-feira, 19 de abril de 2013


Tema 12
SETE GRANDES ATOS DE DEUS
NA HISTÓRIA – PARTE III
 
Dr. José Carlos Ramos
abril de 2013
 
            Até agora observamos cinco dos sete atos fundamentais de Deus na história para o cumprimento de Seu propósito de salvação: o concerto abraâmico, a saída de Israel do Egito, a libertação do cativeiro babilônico, a encarnação do Filho de Deus e o estabelecimento da Igreja Cristã. Observemos agora Seu sexto ato.
 
Ato 6: a restauração final da verdade
 
            Jesus afirmou que a trajetória da Igreja por este mundo seria marcada por dificuldades e perigos. "Se Me perseguiram a Mim, também perseguirão a vós", disse Ele (Jo 15:20). Nunca o verdadeiro cristão contou com o apoio do mundo. Mas houve épocas em que a perseguição foi mais duramente sentida. No primeiro século, por exemplo, "cadeias e tribulações" aguardavam os pregadores do evangelho de cidade em cidade (At 20:23). Do segundo ao quarto séculos, a perseguição se efetivou sob os imperadores romanos, cessando em 313 com o edito de Milão por Constantino.
O aspecto irônico da perseguição foi expresso por Jesus aos discípulos nestes termos: "Vem a hora em que todo o que vos matar julgará com isso tributar culto a Deus" (Jo 16:2). Isso foi sentido ainda no primeiro século, quando, em nome de Deus, os judeus se opuseram ao cristianismo. Mas o que Jesus disse se cumpriu mais amplamente na Idade Média quando o então dominante sistema eclesiástico romano, através do tribunal da Inquisição, executou milhares de dissidentes, alegando fazê-lo em favor da fé. Eram professos cristãos perseguindo e matando professos cristãos! A Igreja Romana se julgava no dever e no direito de corrigir e, se necessário, eliminar "hereges", cujo crime, na maioria das vezes, era contrariar os dogmas de Roma, e não as verdades da Bíblia. Ademais, Jesus nunca conferiu à Igreja o poder da espada para corrigir eventuais erros entre Seus seguidores, pois a disciplina eclesiástica é sempre de natureza espiritual.
            Mas, por mais dura que fosse a perseguição, ela nunca destruiu a Igreja. Ao contrário, Tertuliano afirmou que o sangue dos cristãos era qual semente. Quanto mais derramado, mais se multiplicavam. Jesus, todavia, previu que outra situação, pior que a perseguição, ameaçaria a integridade da Igreja: a apostasia, o desvio da verdade mediante a adoção de conceitos pervertidos. “Levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos” (Mt 24:11, 12). A expressão “de quase todos” significa que um grupo permaneceria fiel, representando a verdadeira Igreja até o fim (v. 13). Deus sempre teve filhos leiais, e nunca o mundo ficou sem o testemunho da verdade.
            A pena apostólica também se referiu à apostasia. “Haverá tempo”, disse Paulo, “em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças [...] e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2Tm 4:3, 4). Aos bispos da igreja de Éfeso afirmou: “Eu sei que depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes que não pouparão o rebanho. E dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles” (At 20:29, 30). A expressão “depois da minha partida” pode se referir à morte de Paulo e, de forma mais ampla, ao término da era apostólica; “dentre vós mesmos” indica que a apostasia partiria da liderança.
            A Igreja sempre foi ameaçada por ensinos deturpados. Mas, no primeiro século, a orientação apostólica os coibiu. Paulo, contudo, declarou que já no seu tempo “o mistério da iniquidade” operava aguardando condições para pleno desenvolvimento (2Ts 2:7, 8). Conceitos mundanos tentaram em vão adentrar os arraiais cristãos no primeiro século. Mas, a partir do segundo século, os apologistas cristãos acabaram conciliando doutrinas pagãs e cristãs. A teoria platônica da imortalidade da alma, por exemplo, foi assumida, obscurecendo uma das verdades basilares do evangelho, a ressurreição salvífica no dia da volta de Jesus, e abrindo espaço para teorias decorrentes, como a punição contínua do ímpio no inferno e o eterno descanso do justo no Céu, ambos iniciando com a morte.
            Mas as condições para que a apostasia se manifestasse plenamente só vieram com o fim da intolerância imperial. Foram se cristalizando a partir da pretendida conversão de Constantino (306-337) em 313. Ele, de fato, viveu como pagão, pois pediu o batismo apenas na hora da morte. As moedas que cunhou traziam de um lado o nome Cristo e, do outro, a figura do sol com a inscrição “Sol Invicto”, usada no culto a Mitras, praticado em todo o império.
            Em 321, promulgou um decreto que requeria a guarda do domingo, em cujo texto esse dia é identificado por seu antigo nome, dies solis, o dia do sol. Em realidade, esse decreto foi um importante passo para que o primeiro dia da semana fosse afinal estabelecido oficialmente como dia de guarda na cristandade em lugar do sétimo dia, como determina a Bíblia. Para Constantino, foi mais uma forma de obter o apoio de cristãos e pagãos e consolidar o seu governo. Falando da conversão desse imperador, o historiador Will Durant pergunta: “Seria sincera tal conversão, um ato de fé religiosa, ou um golpe de habilidade política? Essa hipótese é a mais aceitável.” História da Civilização: César e Cristo (Rio de Janeiro: Record, 1971), 3:512.
            Apoiada pelo Estado, a Igreja cresceu em número e declinou em espiritualidade. A adoção cristã de práticas e conceitos pagãos parte especialmente do tempo de Constantino. É verdade que a crença na imortalidade da alma o antecede, mas devemos lembrar que, com Agostinho (354-430), ela ganhou a forma definitiva de doutrina. Igualmente, a guarda do primeiro dia da semana ocorria antes de Constantino, mas a igreja oficializou essa prática no concílio de Laodicéia, ainda no quarto século. Ademais, foi Silvestre, bispo de Roma no tempo de Constantino, que igualmente formalizou o nome domingo para o dia do sol.
            Por outro lado, a preeminência do bispo de Roma, em prejuízo dos de Jerusalém, Antioquia, Alexandria e Constantinopla, que também exerciam decidida influência no governo da Igreja, tornou-se cada vez mais evidente. Durant nos informa que “a palavra papa, ʻpaiʼ, era, nos primeiros três séculos, aplicada a qualquer bispo cristão.” Ibidem, 483. Mais tarde, naturalmente, o título se tornou exclusivo do bispo de Roma, pois, em 533, Justiniano (527-565) o nomeou “cabeça de todas as igrejas cristãs”. A essa altura, Constantinopla (hoje Istambul), e não mais Roma, era a sede do governo imperial. Assim, a romanização do cristianismo acontecia, e o caminho ficava franqueado para o surgimento do sistema papal de governo eclesiástico na antiga sede.
            Como esse historiador afirma, “quando o cristianismo conquistou Roma, a estrutura eclesiástica da igreja pagã, o título e as vestes do pontifex maximus, a adoração da Grande Mãe e de uma multidão de divindades reconfortadoras, o senso de presenças supersensíveis espalhadas por toda parte, a alegria ou a solenidade dos velhos festivais e procissões passaram como sangue maternal para a nova religião − e a vencida Roma capturou seu conquistador [isto é, Roma pagã se incorporou na Roma cristã]. As rédeas do governo foram transmitidas por um governo moribundo a um papado forte.” Ibidem, 525.
            Assim, a igreja “não se limitou a tomar algumas formas e costumes religiosos da Roma pré-cristã − a estola e outras vestes sacerdotais, o uso do incenso e da água benta nas purificações, o círio e a luz perpetuamente acesa nos altares, a veneração dos santos, a arquitetura da basílica, a lei romana como base da lei canônica, o título de Pontifex Maximus para o supremo pontífice e, no quarto século, o latim como língua oficial da igreja. O grande legado de Roma à igreja foi uma vasta estrutura de governo que, quando a autoridade secular desabou, veio a se tornar a estrutura do governo eclesiástico.” Ibidem, 484. Houve, portanto, uma sequência natural entre os antigos imperadores de Roma e os papas da igreja.
            As profecias de Daniel e do Apocalipse previram a apostasia e a restauração da verdade. A reforma protestante do século 16, naturalmente, foi referida, mas elas realçam o aspecto escatológico da restauração, isto é, sua ocorrência nos dias finais da história. Daniel 7 fala do poder romano agindo contra Deus e Seu povo, e intentando mudar Sua lei (v. 25), alusão à mudança do dia de guarda do sábado, como prescreve o quarto mandamento bíblico, para o domingo, como determina o terceiro mandamento do catecismo. A própria Igreja Romana assume a responsabilidade dessa mudança: “A Igreja Católica, mais de mil anos antes de um único protestante [...] mudou o dia de sábado para o domingo.” Catholic Mirror, 23 de setembro de 1893.
            Daniel 8 fala do mesmo poder derrubando a verdade e fazendo prosperar o engano (vv. 12, 25); também predisse que, ao fim de 2.300 dias, a verdade seria restaurada (v. 14). Em 1844, quando este período terminou, surgiram os adventistas do sétimo dia para cumprir sua missão mundial. Daniel 12:4, 9 e 10 previu um despertamento no “tempo do fim” para o estudo das Escrituras, com atenção voltada às profecias, o que resultaria numa ênfase maior à volta de Jesus e à necessidade do preparo para esse evento. Isso ocorre em nossos dias.
            Por sua vez, o Apocalipse trata da apostasia, principalmente nos capítulos 12 e 13; mas fala a seguir de uma obra final e mundial de restauração pela proclamação de uma mensagem tríplice (14:6-11) conclamando o mundo à adoração do Criador dos Céus e da Terra (do que a guarda do sábado é um memorial [ver Êxodo 20:8-11]), “porque chegada é a hora do Seu juízo”, e advertindo a todos contra os enganos de Babilônia e da primeira e segunda bestas, símbolos das forças operadoras da apostasia. O profeta vê, então, o povo de Deus guardando os Seus mandamentos (v. 12), isto é, a Igreja novamente sustentando as verdades divinas, como fazia no primeiro século. Em seguida, o quadro da volta de Jesus, com o galardão aos justos e a punição aos ímpios, se espelha diante do profeta (vv. 14-20). Com efeito, ocorrida a restauração da verdade, Cristo regressará, como Pedro afirma em Atos 3:20, 21, evocando a predição de antigos profetas. Jesus também assegurou que o genuíno “evangelho do reino” seria “pregado [...] por todo o mundo, para testemunho a todas as nações” e que então viria “o fim” (Mt 24:14).
            Hoje, a mensagem de salvação está sendo pregada mundialmente. Falta pouco para essa obra seja concluída e Cristo regresse em glória. Os tempos atuais são solenes e, mais que nunca, devemos estudar a Bíblia para entender e viver suas preciosas verdades. Falando da cidade que Deus preparou para os remidos, Isaías diz: “Uma forte cidade temos, a que Deus pôs a salvação por muros e antemuros.” E o profeta, então, registra a ordem que logo Jesus dará: “Abri as portas, para que entre nela a nação justa, que guarda a fidelidade” (Is 26:2, 3).
Esse privilégio pode ser nosso!

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Sete Grandes Atos de Deus na História - parte II

Tema 11
SETE GRANDES ATOS DE DEUS
NA HISTÓRIA - PARTE II

Dr. José Carlos Ramos
Abril de 2013

            Na primeira parte deste estudo observamos os 4 primeiros de 7 atos fundamentais de Deus na História para o cumprimento de Seu propósito salvífico: o concerto abraâmico, a saída de Israel do Egito, a libertação do cativeiro babilônico e a encarnação de Deus na pessoa de Seu Filho, Jesus Cristo. Consideremos agora o 5º ato.

Ato 5: o estabelecimento da Igreja Cristã

            “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mt 16:18). Aqui se afirma claramente que a formação da Igreja é um ato exclusivo de Deus por Jesus Cristo. O ponto controvertido é a identificação da pedra sobre a qual a Igreja é fundamentada. Intérpretes católicos em geral afirmam que a pedra é a pessoa e apostolado de Pedro, num esforço por estabelecer biblicamente o primado deste apóstolo e o dogma da sucessão apostólica assumida pelo Papa, dois pontos questionáveis.
            Um estudo mais cuidadoso do texto, todavia, evidencia a impropriedade dessa conclusão. Inicialmente dizemos que se Cristo quisesse afirmar que Pedro é a pedra aqui referida poderia simplesmente dizer: “Sobre ti edificarei a minha igreja”, o que Ele não disse. Em segundo lugar, deveríamos observar que o grego petros, exatamente o nome Pedro nesse idioma, não tem o mesmo significado de petra, traduzido como pedra na frase seguinte. O sentido desta palavra é pedra sólida, rocha, enquanto petros significa fragmento de rocha, pedra movediça e que pode ser atirada em qualquer direção. O grego petros corresponde no aramaico, a língua materna de Jesus, a cefas que significa tanto rocha (petra) como pedra (petros). É evidente que o termo grego que identifica a Pedro normatiza o sentido de cefas como novo nome conferido por Cristo ao apóstolo. O evangelho simplesmente declara que cefas quer dizer petros (Jo 1:42). Alguns ainda entendem que Cristo não empregaria a forma feminina petra para identificar um homem. Esse fato, todavia, não elimina a diferença entre petra e petros. E perguntamos por que Jesus não o faria, se antes de tudo o termo seria significativo de algum eventual traço do caráter desse homem? Cristo não o fez porque tal traço, representado pela solidez e firmeza da rocha, não era possuído por Pedro, como ficou evidenciado posteriormente em seu ato de negar o Senhor (Mt 26:69-75) e de agir incoerentemente com respeito a judeus e gentios em relação à universalidade do Evangelho (Gl 2:11, 12, 14). Como sentido figurativo petra é empregado para o próprio Senhor Jesus, e assim vemos que o testemunho bíblico aponta não para Pedro como sendo a petra. Paulo diz que “ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (I Cor 3:11), e o próprio Pedro diz que Jesus é a petra (1Pd 2:4-9). Jesus Cristo é tanto o construtor como o fundamento da Igreja.
            É exatamente este fato que confere respaldo à afirmação de que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela”, isto é, a Igreja finalmente triunfará como Cristo triunfou. Aquele que tem o poder da morte é Satanás, mas a morte de Jesus na cruz tornou-o um inimigo derrotado (Hb 2:14) e a Igreja nada tem a temer se permanecer ao lado de Cristo; seu triunfo está garantido.
            Naturalmente este fato é afirmado em todo o Novo Testamento, mas nenhum livro da Bíblia refere ao triunfo final da Igreja de forma tão definida como o Apocalipse. Ele começa falando das cartas enviadas às 7 igrejas da Ásia Menor (Ap 2:1-3:22), um apropriado símbolo da Igreja em todos os séculos da era cristã. Estas cartas contém elogios, um claro reconhecimento dos valores espirituais do Seu povo, mas contém também sérias advertências indicativas de suas fraquezas e deficiências. A Igreja é vista como militante mas não ainda como triunfante. Que ela, todavia, deixará de ser uma coisa para ser outra é evidenciado no fato de que cada carta termina com uma promessa ao vencedor.
            O Apocalipse então conclui com uma exibição dessa gloriosa e final transição. A Igreja é vista vitoriosa para sempre no Reino de Deus, desfrutando a Sua presença e o cumprimento de todas as Suas promessas (Ap 21:1-22:5). Mas o que se posiciona entre o estado de militante e o estado de triunfante é ainda mais significativo. A mensagem central do Apocalipse é que a Igreja deve o seu triunfo ao triunfo de Jesus no Calvário. Sua morte e ressurreição são vistos como a razão de ser, o fundamento, a petra do triunfo da Igreja. “Então ouvi grande voz do céu proclamando: Agora veio a salvação, o poder, o reino de nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, pois foi expulso o acusador de nosso irmãos... Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram.” (Ap 12:10, 11).
            Mas qual é a igreja de Jesus Cristo, ou quem pode considerar-se um membro dela?
            Primeiramente não deveríamos confundir a Igreja com a cristandade. Esta palavra lembra a sociedade humana que se diz cristã, e que nem por isto significa que ela seja a Igreja de Cristo. Alguém se torna membro da cristandade nascendo no seio de uma família pretensamente cristã, e sendo assim considerado; mas para alguém ser membro da Igreja de Cristo é necessário nascer outra vez por obra e graça do Espírito Santo. Jesus disse: “Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.” (Jo 3:3). Este primeiro passo é imprescindível, porque não há outro meio de alguém se tornar um cristão. A própria Igreja nasceu quando recebeu o Espírito Santo no dia de Pentecostes (At 2), em cumprimento da promessa feita por Jesus. O evento desse dia nos revela que uma sociedade gerada por Deus nasce com a recepção do poder do Alto para anunciar ao mundo que Jesus Cristo é Salvador e Senhor. Em outras palavras, para se subordinar a Cristo, cuja vontade lhe será soberana.
            Se podemos dizer que a experiência coletiva da Igreja naquele dia padroniza a experiêrcia de todos os que se tornam cristãos, afirmamos que alguém nasce do Espírito para ser um servo de Jesus Cristo, isto é, para fazer a Sua vontade. Em primeiro lugar o Espírito Santo o convence do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:8). Pecado é transgressão da lei de Deus (1Jo 3:4). Pela operação do Espírito o homem se conscientiza de quão pecador é por não crer em Jesus (v. 9). Em seguida ele é convencido da justiça de Deus, disponível a ele porque Cristo se encontra hoje no céu (v. 10) para aplicar as virtudes salvíficas do Seu sacrifício a todo o que se arrepender e crer. O apóstolo Paulo chama este processo de “justificação pela fé.”. Finalmente, o Espírito Santo convence o pecador “do juízo”, porque Satanás, desde a cruz, está julgado e condenado (v. 11), o que acontecerá com aqueles que, a exemplo dele, preferem continuar em rebelião contra Deus. Mas os verdadeiros crentes não precisam temer o juízo porque Cristo morreu para que tenham a vida eterna.
            Uma vez transformado num discípulo de Jesus, o pecador começa a viver a vida cristã, caracterizada por uma inteira consagração ao Salvador e plena obediência aos mandamentos de Deus, conforme Este o santifica cada vez mais. Paulo afirma que a fé, muito ao contrário de abolir a lei divina, confirma esta lei na vida do crente (Rm 3:31), de maneira que o verdadeiro crente jamais imaginará que Jesus destruiu a lei em qualquer época, muito menos ao morrer na cruz, como é assumido por quase todas as agremiações evangélicas.
            Submisso ao Espírito Santo, o pecador então prossegue na carreira cristã. Ele dará um vivo testemunho da salvação que encontrou em Cristo, até estar salvo na eternidade. Toda esta experiência faz do pecador um membro da Igreja de Cristo e um herdeiro do reino de Deus. Para tanto, a concessão do Espírito Santo ao crente é algo decisivo:
·      É o batismo no Espírito que une os crentes no corpo de Cristo, a Igreja (Ef 1:13)
·      Só são filhos de Deus aqueles que são guiados por Seu Espírito (Rm 8:14)
·      Só pertence a Jesus e vive em união com Ele aquele que possui o Seu Espírito (Rm 8:9; 1Jo 4:13)
·      Uma vida de obediência aos mandamentos de Deus será possível pela habitação do Espírito (Ez 36:27; Rm 8:4; 1Jo 3:24)
·      A dotação do Espírito hoje é uma garantia que herdaremos todas as coisas na eternidade (Rm 8:23)
            Tudo isto se harmoniza com a descrição que a Bíblia apresenta da verdadeira Igreja neste mundo, onde novas igrejas e seitas brotam a cada dia. A Palavra de Deus é clara quanto às características da genuína Igreja. Vejamos sete delas:
            A Igreja verdadeira
                        1. tem a Jesus como Salvador pessoal. Ele é a propiciação pelos pecados “do mundo       inteiro”, mas particularmente “pelos nossos”, isto é, da Igreja. (1Jo 2:2; 4:10).
                        2. procura seguir a Jesus como modelo de vida (1Pd 2:21). O Apocalipse afirma que      os santos são aqueles que “têm a fé de Jesus” (Ap 14:12).
                        3. não participa da impiedade que há no mundo bem como se abstém das paixões           carnais (1Jo 2:15-17; 1Pd 2:11; 2Tm 2:19).
                        4. é unida pelo amor fraternal como uma grande família (Jo 13:34, 35).
                        5. guarda os mandamentos da lei de Deus como se encontram na Bíblia (Ap 14:12).
                        6. possui os dons espirituais, particularmente o de profecia (Ap 12:17; 19:10).
                        7. aguarda a Jesus em Sua segunda vinda a este mundo (Hb 9:28).
            Os Adventistas do 7º Dia creem cumprir estas especificações, mas não se vêem exclusivamente como povo de Deus. Entendem que os membros de cada denominação cristã que se renderam a Ele e vivem segundo a luz divina que possuem são também membros do corpo de Cristo. Deus os conhece (2Tm 2:19), e fará com que a eles chegue o pleno conhecimento da verdade até antes do fim (Ap 18:4). Jesus previu isto quando disse: “Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz ; então haverá um rebanho e um pastor.” (Jo 10:16)
            Perguntamos: é importante pertencer ao povo de Deus neste mundo? Sim, pois a Bíblia o afirma claramente. Deus comissionou Seu povo a pregar o evangelho a todo o mundo (Mt 18:19,20) com a afirmação de que “quem crer e for batizado será salvo [o batismo é o portal de entrada na Igreja]; quem, porém, não crer será condenado.” (Mr 16:15, 16). Isto é tão decisivo que Jesus não voltará enquanto esta tarefa não estiver plenamente concluída (Mt 24:14), o que significa que até o Seu retorno cada habitante do planeta terá tomado sua decisão de pertencer ou não à Igreja.
            Daí o empenho apostólico que, mais do que nos enternecer, apela ao nosso bom senso: “Hoje se ouvirdes a Sua voz não endureçais o vosso coração.” (Hb 4:7).

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Sete Grandes Atos de Deus na História - parte I

Tema 10

SETE GRANDES atos DE deus
NA HISTÓRIA - parte i

José Carlos Ramos
Abril de 2013


            Tenho considerado a profecia bíblica como predizendo o cumprimento de atos salvíficos de Deus. Visualizemos agora sete distintivos atos divinos na História, decisivos para que a Terra volte finalmente à sua perfeição original. Considerarei inicialmente os quatro primeiros.

Ato 1: o concerto abraâmico

            A promessa da vinda do Redentor foi feita logo que o pecado penetrou neste mundo (Gn 3:15). Os antigos patriarcas viveram pela fé nesta promessa, sem, contudo, contarem com evidências do seu cumprimento (Hb 11:2, 4-7, 39). Com o concerto abraâmico, estabelecido mais ou menos dois mil anos depois, Deus passou a definir como a promessa seria cumprida. “Sai da tua terra e vai para a terra que te mostrarei”, disse Ele a Abraão, “e de ti farei uma grande nação. Em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12:1-3). A grande nação aqui referida é Israel; as demais nações seriam abençoadas porque dos judeus viria o Messias trazendo a salvação para todos (Jo 4:22). O concerto abraâmico, portanto, foi um ato divino de repercussão universal.
            Algum tempo depois Deus prometeu a Abraão um filho, seu legítimo herdeiro e de quem procederiam os descendentes que herdariam a Terra (Gn 15:2-6; 12:14-17). O filho da promessa chamou-se Isaque, pai de Jacó de quem vieram os precursores das 12 tribos de Israel. Mas devemos lembrar que, à luz do Evangelho, o verdadeiro filho de Abraão é Jesus Cristo (Gl 3:16), através de Quem as bênçãos do concerto se concretizam. Seus legítimos descendentes são aqueles que tem a Cristo como Senhor. “Se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão, e herdeiros segundo a promessa.” (Gl 3:29; ver também Rm 9:7, 8).

Ato 2: o primeiro êxodo: a saída de Israel do Egito

            Os últimos capítulos de Gênesis e os primeiros de Êxodo narram como Jacó e seus descendentes se estabeleceram no Egito, sendo posteriormente escravizados. Libertados então pelo poder de Deus, partiram rumo à terra prometida, acampando por um bom tempo na planície do Sinai, onde foram organizados como nação teocrática. Ali Deus outorgou-lhes pessoalmente os Dez Mandamentos como carta magna, e instruiu-os na preparação de um santuário com um bem elaborado serviço, o que os capacitaria a entender melhor o Seu propósito.
            Deus começara a efetivar o cumprimento da promessa feita a Abraão. O êxodo e os eventos que se seguiram determinaram a existência de Israel como nação eleita. A Deus deviam exclusivamente a existência, e a Ele deveriam responder com devoção e amor. Um dos objetivos da instituição e comemoração da Páscoa era ajudá-los a jamais se esquecerem desse fato. Na verdade, o êxodo deveria ser a grande motivação para a fidelidade de Israel em todo o curso de sua história, o que o levaria a conquistar e desfrutar os grandiosos ideais de Deus. A posterior organização da monarquia ensejou os gloriosos reinados de Davi e Salomão, na realidade uma pálida demonstração do que deveria ocorrer sob o domínio do Messias. Porém, a constante deslealdade de Israel, fruto de sua ingratidão (Am 2:6-12), impediu-lhe de corresponder às expectativas divinas.
            A ocupação de Canaã, e sua posterior expansão, propiciaram a Israel a posse daqueles locais que mais tarde foram apontados nas profecias messiânicas como palco da presença do Messias nesse mundo, desde Belém onde nasceu, até Jerusalém onde foi morto. Este segundo ato de Deus foi também fundamental no escopo maior da salvação que Ele proveria.
            O êxodo e os fatos subsequentes, são, na verdade, apropriados tipos da redenção operada por Jesus na Cruz e de suas consequências na experiência humana (1Co 10:1-6, 11). Deus revelou a Moisés as circunstâncias que finalmente resultariam na libertação de Seu povo. “Vi a aflição do meu povo que está no Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-lhes o sofrimento, por isso desci a fim de livrá-lo e fazê-los subir daquela terra a uma terra boa e ampla” (Êx 3:7, 8). Os verbos “ver”, “ouvir”, “conhecer”, “descer”, “livrar” e “fazer subir” indicam ações específicas de Deus em Seu grande ato de redimir a Israel. Definem também benditas realidades no processo de nossa redenção. Deus viu a nossa situação de perdidos, ouviu o nosso clamor por salvação, conheceu a nossa necessidade de um Salvador, desceu até nós na pessoa de Seu Filho, livrou-nos do pecado, e nos fez subir aos “lugares celestiais” em Cristo (Ef 2:6). Mais séria que a escravidão egípcia, é a escravidão do pecado, da qual só Deus nos liberta mediante o sangue de Jesus (Jo 8:32-35). “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Cl 1:13).

Ato 3: o segundo êxodo: o retorno do cativeiro

            Após a morte de Salomão, Israel foi dividido, dez tribos formando um reino ao norte, e Judá e Benjamin outro reino ao sul, com Jerusalém como capital. Temendo perder o domínio para o rei do sul, Jeroboão, o primeiro rei do norte, proibiu o povo de participar do culto em Jerusalém, estabelecendo em seu próprio território um sistema religioso paralelo, em oposição ao que Deus ordenara. Pior ainda, o culto de Jeroboão era de natureza pagã (1Rs 12:25-33). Pouco a pouco essas tribos se afastaram de Deus até rejeitá-lO de vez. O reino do norte perdurou por um pouco mais de duzentos anos, ao fim dos quais as tribos foram desapossadas pelos assírios e transmigradas para diferentes regiões, até finalmente perderem sua identidade.
            O reino do sul acabou também caindo em apostasia, de forma que os juízos de Deus se tornaram inevitáveis (2Rs 17:18-20). Em 605 a. C. os judeus começaram a amargar um cativeiro que se arrastaria por 70 anos, uma tragédia nacional necessária, devessem os valores espirituais deste povo ser preservados. Neste sentido, o exílio babilônico se revelou uma bênção. No final, quando Deus os trouxe de volta, haviam compreendido que o falso culto não oferece a mínima compensação.
            O exercício profético cumpriu um importante papel antes, durante e depois do cativeiro. Primeiramente, Deus enviou profeta após profeta advertindo quanto ao que aconteceria caso a apostasia persistisse. Infelizmente foram ignorados (2Rs 17:13, 14). Começado o cativeiro, Deus não cessou de Se revelar. Três profetas se destacaram nesta circunstância: Jeremias, Ezequiel e Daniel, os dois últimos atuando em Babilônia, o império conquistador, o primeiro na região do rio Quebar (Ez 1:1), e o segundo na própria capital (veja o livro de Daniel). No tempo do retorno e re-estabelecimento na Palestina, Deus uma vez mais se fez ouvir nas vozes de Ageu e Zacarias, os quais fortaleceram o povo na reconstrução do templo.
            Muito tempo antes do exílio, outro profeta, Isaías, previu o que ocorreria e como Deus novamente libertaria Seu povo (Is 40-46; 51). Até mesmo o nome do libertador, Ciro, foi anunciado (44:28; 45:1, 13). Isaías predisse também o que sucederia num futuro mais distante. Procedem de sua pena as profecias messiânicas mais notáveis do Velho Testamento (por exemplo, 7:14; 11:1-7 e todo o cap. 53). Sob a direção do Messias, o povo de Deus cresceria em glória até que toda a Terra seria iluminada (Is 60:1-3) e transformada numa nova Terra (Is 65:17-25). À luz do Apocalipse, esses fatos ocorrerão na consumação dos séculos (Ap 18:1 e caps. 21 e 22).
            É evidente que, a exemplo do primeiro êxodo, o retorno dos judeus após 70 anos de exílio é um tipo apropriado da libertação que o pecador encontra no evangelho. O termo Babilônia nas profecias do Apocalipse define um falso sistema de culto, que se opõe ao legítimo e enreda as pessoas no engano e na perdição; daí o convite para saírem de Babilônia, e retornarem ao Deus verdadeiro (Ap 18:4).

Ato 4: a encarnação do Filho de Deus

            Deus sempre agiu na História, todavia à parte dela. Pela encarnação de Seu Filho, Ele penetrou na História para ser Seu principal agente e cumprir Seu ato central e definitivo. Deste ato dependem todos os demais na História.
            “Vindo a plenitude do tempo, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher” (Gl 4:4). A palavra grega chronos, tempo, aqui utilizada por Paulo, denota a História em seu curso. O tempo havia transcorrido e chegara o momento em que a promessa feita aos pais, reafirmada a Abraão e repetida posteriormente inúmeras vezes, seria cumprida. Isto ocorreu com o nascimento de Jesus.
            O apóstolo também afirma que Deus fez convergir em Cristo todas as coisas no céu e na terra, e isso também “na plenitude dos tempos” (Ef 1:10). Nesse texto, todavia, a palavra “tempo” é kairós, de significado um pouco diferente. Kairós não é o tempo que escoa, mas a ocasião propícia, como quando dizemos que a primavera é o “tempo” das flores. Enquanto chronos tem um sentido mais temporal, kairós tem um sentido mais circunstancial. Todo o tempo (chronos) em que a graça de Deus opera é o tempo (kairós) da salvação.
            Mas esse tempo de salvação deve ser antes visto como concentrado em Cristo. A implicação, portanto, é mais que afirmar que com Cristo chegou o tempo áureo da salvação, já que ela estava disponível desde o início. Indica que todos os atos salvíficos de Deus, operados antes e depois de Cristo, em qualquer ocasião, em qualquer lugar, e tendo o Céu e a Terra como palcos, convergiram para o evento histórico da encarnação como seu centro motor e razão de ser. Em Cristo cada ocasião (kairós) de salvação alcança a sua plenitude. A cruz concentra o todo da atividade salvífica de Deus, e dela promana para o alcance de seus resultados em todos os tempos e lugares.
            Por isso devemos considerar as profecias bíblicas como potencialmente cumpridas em Cristo, pois elas têm que ver com os atos salvíficos de Deus na História, atos que se concentram nEle e são dEle dependentes, mesmo aqueles operados antes e depois dEle. Assim também as profecias se cumprem na História, antes e depois de Cristo, por terem encontrado nEle o seu cumprimento fundamental (Mt 5:17, 18).
            Finalmente dizemos que a encarnação nos toca a todos, pois, através dela, Deus se tornou um de nós e um conosco (Jo 1:1, 14). Neste sentido, ela se traduz na forma de uma dádiva: “Um menino nos nasceu, um filho se nos deu”, diz a profecia (Is 9:6). É a maior dádiva, fruto exclusivo do Infinito Amor (Jo 3:16), a dádiva que concentra todas as demais. “Aquele que não poupou a Seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura não nos dará graciosamente com Ele todas as coisas?” (Rm 8:32). “Por isso é que Ele não se envergonha de” nos “chamar irmãos” (Hb 2:11).