quinta-feira, 11 de abril de 2013

Sete Grandes Atos de Deus na História - parte II

Tema 11
SETE GRANDES ATOS DE DEUS
NA HISTÓRIA - PARTE II

Dr. José Carlos Ramos
Abril de 2013

            Na primeira parte deste estudo observamos os 4 primeiros de 7 atos fundamentais de Deus na História para o cumprimento de Seu propósito salvífico: o concerto abraâmico, a saída de Israel do Egito, a libertação do cativeiro babilônico e a encarnação de Deus na pessoa de Seu Filho, Jesus Cristo. Consideremos agora o 5º ato.

Ato 5: o estabelecimento da Igreja Cristã

            “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mt 16:18). Aqui se afirma claramente que a formação da Igreja é um ato exclusivo de Deus por Jesus Cristo. O ponto controvertido é a identificação da pedra sobre a qual a Igreja é fundamentada. Intérpretes católicos em geral afirmam que a pedra é a pessoa e apostolado de Pedro, num esforço por estabelecer biblicamente o primado deste apóstolo e o dogma da sucessão apostólica assumida pelo Papa, dois pontos questionáveis.
            Um estudo mais cuidadoso do texto, todavia, evidencia a impropriedade dessa conclusão. Inicialmente dizemos que se Cristo quisesse afirmar que Pedro é a pedra aqui referida poderia simplesmente dizer: “Sobre ti edificarei a minha igreja”, o que Ele não disse. Em segundo lugar, deveríamos observar que o grego petros, exatamente o nome Pedro nesse idioma, não tem o mesmo significado de petra, traduzido como pedra na frase seguinte. O sentido desta palavra é pedra sólida, rocha, enquanto petros significa fragmento de rocha, pedra movediça e que pode ser atirada em qualquer direção. O grego petros corresponde no aramaico, a língua materna de Jesus, a cefas que significa tanto rocha (petra) como pedra (petros). É evidente que o termo grego que identifica a Pedro normatiza o sentido de cefas como novo nome conferido por Cristo ao apóstolo. O evangelho simplesmente declara que cefas quer dizer petros (Jo 1:42). Alguns ainda entendem que Cristo não empregaria a forma feminina petra para identificar um homem. Esse fato, todavia, não elimina a diferença entre petra e petros. E perguntamos por que Jesus não o faria, se antes de tudo o termo seria significativo de algum eventual traço do caráter desse homem? Cristo não o fez porque tal traço, representado pela solidez e firmeza da rocha, não era possuído por Pedro, como ficou evidenciado posteriormente em seu ato de negar o Senhor (Mt 26:69-75) e de agir incoerentemente com respeito a judeus e gentios em relação à universalidade do Evangelho (Gl 2:11, 12, 14). Como sentido figurativo petra é empregado para o próprio Senhor Jesus, e assim vemos que o testemunho bíblico aponta não para Pedro como sendo a petra. Paulo diz que “ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (I Cor 3:11), e o próprio Pedro diz que Jesus é a petra (1Pd 2:4-9). Jesus Cristo é tanto o construtor como o fundamento da Igreja.
            É exatamente este fato que confere respaldo à afirmação de que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela”, isto é, a Igreja finalmente triunfará como Cristo triunfou. Aquele que tem o poder da morte é Satanás, mas a morte de Jesus na cruz tornou-o um inimigo derrotado (Hb 2:14) e a Igreja nada tem a temer se permanecer ao lado de Cristo; seu triunfo está garantido.
            Naturalmente este fato é afirmado em todo o Novo Testamento, mas nenhum livro da Bíblia refere ao triunfo final da Igreja de forma tão definida como o Apocalipse. Ele começa falando das cartas enviadas às 7 igrejas da Ásia Menor (Ap 2:1-3:22), um apropriado símbolo da Igreja em todos os séculos da era cristã. Estas cartas contém elogios, um claro reconhecimento dos valores espirituais do Seu povo, mas contém também sérias advertências indicativas de suas fraquezas e deficiências. A Igreja é vista como militante mas não ainda como triunfante. Que ela, todavia, deixará de ser uma coisa para ser outra é evidenciado no fato de que cada carta termina com uma promessa ao vencedor.
            O Apocalipse então conclui com uma exibição dessa gloriosa e final transição. A Igreja é vista vitoriosa para sempre no Reino de Deus, desfrutando a Sua presença e o cumprimento de todas as Suas promessas (Ap 21:1-22:5). Mas o que se posiciona entre o estado de militante e o estado de triunfante é ainda mais significativo. A mensagem central do Apocalipse é que a Igreja deve o seu triunfo ao triunfo de Jesus no Calvário. Sua morte e ressurreição são vistos como a razão de ser, o fundamento, a petra do triunfo da Igreja. “Então ouvi grande voz do céu proclamando: Agora veio a salvação, o poder, o reino de nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, pois foi expulso o acusador de nosso irmãos... Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram.” (Ap 12:10, 11).
            Mas qual é a igreja de Jesus Cristo, ou quem pode considerar-se um membro dela?
            Primeiramente não deveríamos confundir a Igreja com a cristandade. Esta palavra lembra a sociedade humana que se diz cristã, e que nem por isto significa que ela seja a Igreja de Cristo. Alguém se torna membro da cristandade nascendo no seio de uma família pretensamente cristã, e sendo assim considerado; mas para alguém ser membro da Igreja de Cristo é necessário nascer outra vez por obra e graça do Espírito Santo. Jesus disse: “Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.” (Jo 3:3). Este primeiro passo é imprescindível, porque não há outro meio de alguém se tornar um cristão. A própria Igreja nasceu quando recebeu o Espírito Santo no dia de Pentecostes (At 2), em cumprimento da promessa feita por Jesus. O evento desse dia nos revela que uma sociedade gerada por Deus nasce com a recepção do poder do Alto para anunciar ao mundo que Jesus Cristo é Salvador e Senhor. Em outras palavras, para se subordinar a Cristo, cuja vontade lhe será soberana.
            Se podemos dizer que a experiência coletiva da Igreja naquele dia padroniza a experiêrcia de todos os que se tornam cristãos, afirmamos que alguém nasce do Espírito para ser um servo de Jesus Cristo, isto é, para fazer a Sua vontade. Em primeiro lugar o Espírito Santo o convence do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:8). Pecado é transgressão da lei de Deus (1Jo 3:4). Pela operação do Espírito o homem se conscientiza de quão pecador é por não crer em Jesus (v. 9). Em seguida ele é convencido da justiça de Deus, disponível a ele porque Cristo se encontra hoje no céu (v. 10) para aplicar as virtudes salvíficas do Seu sacrifício a todo o que se arrepender e crer. O apóstolo Paulo chama este processo de “justificação pela fé.”. Finalmente, o Espírito Santo convence o pecador “do juízo”, porque Satanás, desde a cruz, está julgado e condenado (v. 11), o que acontecerá com aqueles que, a exemplo dele, preferem continuar em rebelião contra Deus. Mas os verdadeiros crentes não precisam temer o juízo porque Cristo morreu para que tenham a vida eterna.
            Uma vez transformado num discípulo de Jesus, o pecador começa a viver a vida cristã, caracterizada por uma inteira consagração ao Salvador e plena obediência aos mandamentos de Deus, conforme Este o santifica cada vez mais. Paulo afirma que a fé, muito ao contrário de abolir a lei divina, confirma esta lei na vida do crente (Rm 3:31), de maneira que o verdadeiro crente jamais imaginará que Jesus destruiu a lei em qualquer época, muito menos ao morrer na cruz, como é assumido por quase todas as agremiações evangélicas.
            Submisso ao Espírito Santo, o pecador então prossegue na carreira cristã. Ele dará um vivo testemunho da salvação que encontrou em Cristo, até estar salvo na eternidade. Toda esta experiência faz do pecador um membro da Igreja de Cristo e um herdeiro do reino de Deus. Para tanto, a concessão do Espírito Santo ao crente é algo decisivo:
·      É o batismo no Espírito que une os crentes no corpo de Cristo, a Igreja (Ef 1:13)
·      Só são filhos de Deus aqueles que são guiados por Seu Espírito (Rm 8:14)
·      Só pertence a Jesus e vive em união com Ele aquele que possui o Seu Espírito (Rm 8:9; 1Jo 4:13)
·      Uma vida de obediência aos mandamentos de Deus será possível pela habitação do Espírito (Ez 36:27; Rm 8:4; 1Jo 3:24)
·      A dotação do Espírito hoje é uma garantia que herdaremos todas as coisas na eternidade (Rm 8:23)
            Tudo isto se harmoniza com a descrição que a Bíblia apresenta da verdadeira Igreja neste mundo, onde novas igrejas e seitas brotam a cada dia. A Palavra de Deus é clara quanto às características da genuína Igreja. Vejamos sete delas:
            A Igreja verdadeira
                        1. tem a Jesus como Salvador pessoal. Ele é a propiciação pelos pecados “do mundo       inteiro”, mas particularmente “pelos nossos”, isto é, da Igreja. (1Jo 2:2; 4:10).
                        2. procura seguir a Jesus como modelo de vida (1Pd 2:21). O Apocalipse afirma que      os santos são aqueles que “têm a fé de Jesus” (Ap 14:12).
                        3. não participa da impiedade que há no mundo bem como se abstém das paixões           carnais (1Jo 2:15-17; 1Pd 2:11; 2Tm 2:19).
                        4. é unida pelo amor fraternal como uma grande família (Jo 13:34, 35).
                        5. guarda os mandamentos da lei de Deus como se encontram na Bíblia (Ap 14:12).
                        6. possui os dons espirituais, particularmente o de profecia (Ap 12:17; 19:10).
                        7. aguarda a Jesus em Sua segunda vinda a este mundo (Hb 9:28).
            Os Adventistas do 7º Dia creem cumprir estas especificações, mas não se vêem exclusivamente como povo de Deus. Entendem que os membros de cada denominação cristã que se renderam a Ele e vivem segundo a luz divina que possuem são também membros do corpo de Cristo. Deus os conhece (2Tm 2:19), e fará com que a eles chegue o pleno conhecimento da verdade até antes do fim (Ap 18:4). Jesus previu isto quando disse: “Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz ; então haverá um rebanho e um pastor.” (Jo 10:16)
            Perguntamos: é importante pertencer ao povo de Deus neste mundo? Sim, pois a Bíblia o afirma claramente. Deus comissionou Seu povo a pregar o evangelho a todo o mundo (Mt 18:19,20) com a afirmação de que “quem crer e for batizado será salvo [o batismo é o portal de entrada na Igreja]; quem, porém, não crer será condenado.” (Mr 16:15, 16). Isto é tão decisivo que Jesus não voltará enquanto esta tarefa não estiver plenamente concluída (Mt 24:14), o que significa que até o Seu retorno cada habitante do planeta terá tomado sua decisão de pertencer ou não à Igreja.
            Daí o empenho apostólico que, mais do que nos enternecer, apela ao nosso bom senso: “Hoje se ouvirdes a Sua voz não endureçais o vosso coração.” (Hb 4:7).

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