Tema 12
SETE GRANDES ATOS DE DEUS
NA HISTÓRIA – PARTE III
Dr. José Carlos Ramos
abril de 2013
Até agora observamos
cinco dos sete atos fundamentais de Deus na história para o cumprimento de Seu
propósito de salvação: o concerto abraâmico, a saída de Israel do Egito, a
libertação do cativeiro babilônico, a encarnação do Filho de Deus e o
estabelecimento da Igreja Cristã. Observemos agora Seu sexto ato.
Ato 6: a
restauração final da verdade
Jesus afirmou que a trajetória
da Igreja por este mundo seria marcada por dificuldades e perigos. "Se Me
perseguiram a Mim, também perseguirão a vós", disse Ele (Jo 15:20). Nunca
o verdadeiro cristão contou com o apoio do mundo. Mas houve épocas em que a
perseguição foi mais duramente sentida. No primeiro século, por exemplo,
"cadeias e tribulações" aguardavam os pregadores do evangelho de
cidade em cidade (At 20:23). Do segundo ao quarto séculos, a perseguição se
efetivou sob os imperadores romanos, cessando em 313 com o edito de Milão por
Constantino.
O aspecto irônico da perseguição foi expresso por
Jesus aos discípulos nestes termos: "Vem a hora em que todo o que vos
matar julgará com isso tributar culto a Deus" (Jo 16:2). Isso foi sentido
ainda no primeiro século, quando, em nome de Deus, os judeus se opuseram ao
cristianismo. Mas o que Jesus disse se cumpriu mais amplamente na Idade Média
quando o então dominante sistema eclesiástico romano, através do tribunal da
Inquisição, executou milhares de dissidentes, alegando fazê-lo em favor da fé.
Eram professos cristãos perseguindo e matando professos cristãos! A Igreja
Romana se julgava no dever e no direito de corrigir e, se necessário, eliminar
"hereges", cujo crime, na maioria das vezes, era contrariar os dogmas
de Roma, e não as verdades da Bíblia. Ademais, Jesus nunca conferiu à Igreja o
poder da espada para corrigir eventuais erros entre Seus seguidores, pois a
disciplina eclesiástica é sempre de natureza espiritual.
Mas, por mais dura que
fosse a perseguição, ela nunca destruiu a Igreja. Ao contrário, Tertuliano
afirmou que o sangue dos cristãos era qual semente. Quanto mais derramado, mais
se multiplicavam. Jesus, todavia, previu que outra situação, pior que a
perseguição, ameaçaria a integridade da Igreja: a apostasia, o desvio da
verdade mediante a adoção de conceitos pervertidos. “Levantar-se-ão muitos
falsos profetas e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o
amor se esfriará de quase todos” (Mt 24:11, 12). A expressão “de quase todos” significa
que um grupo permaneceria fiel, representando a verdadeira Igreja até o fim (v.
13). Deus sempre teve filhos leiais, e nunca o mundo ficou sem o testemunho da
verdade.
A pena apostólica
também se referiu à apostasia. “Haverá tempo”, disse Paulo, “em que não
suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as
suas próprias cobiças [...] e se recusarão a dar ouvidos à verdade,
entregando-se às fábulas” (2Tm 4:3, 4). Aos bispos da igreja de Éfeso afirmou: “Eu
sei que depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes que não
pouparão o rebanho. E dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas
pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles” (At 20:29, 30). A
expressão “depois da minha partida” pode se referir à morte de Paulo e, de
forma mais ampla, ao término da era apostólica; “dentre vós mesmos” indica que
a apostasia partiria da liderança.
A Igreja sempre foi
ameaçada por ensinos deturpados. Mas, no primeiro século, a orientação
apostólica os coibiu. Paulo, contudo, declarou que já no seu tempo “o mistério
da iniquidade” operava aguardando condições para pleno desenvolvimento (2Ts
2:7, 8). Conceitos mundanos tentaram em vão adentrar os arraiais cristãos no
primeiro século. Mas, a partir do segundo século, os apologistas cristãos
acabaram conciliando doutrinas pagãs e cristãs. A teoria platônica da imortalidade
da alma, por exemplo, foi assumida, obscurecendo uma das verdades basilares do
evangelho, a ressurreição salvífica no dia da volta de Jesus, e abrindo espaço
para teorias decorrentes, como a punição contínua do ímpio no inferno e o
eterno descanso do justo no Céu, ambos iniciando com a morte.
Mas as condições para
que a apostasia se manifestasse plenamente só vieram com o fim da intolerância
imperial. Foram se cristalizando a partir da pretendida conversão de
Constantino (306-337) em 313. Ele, de fato, viveu como pagão, pois pediu o
batismo apenas na hora da morte. As moedas que cunhou traziam de um lado o nome
Cristo e, do outro, a figura do sol com a inscrição “Sol Invicto”, usada no
culto a Mitras, praticado em todo o império.
Em 321, promulgou um
decreto que requeria a guarda do domingo, em cujo texto esse dia é identificado
por seu antigo nome, dies solis, o dia do sol. Em realidade, esse decreto
foi um importante passo para que o primeiro dia da semana fosse afinal
estabelecido oficialmente como dia de guarda na cristandade em lugar do sétimo
dia, como determina a Bíblia. Para Constantino, foi mais uma forma de obter o
apoio de cristãos e pagãos e consolidar o seu governo. Falando da conversão
desse imperador, o historiador Will Durant pergunta: “Seria sincera tal
conversão, um ato de fé religiosa, ou um golpe de habilidade política? Essa
hipótese é a mais aceitável.” História da Civilização: César e Cristo (Rio
de Janeiro: Record, 1971), 3:512.
Apoiada pelo Estado, a
Igreja cresceu em número e declinou em espiritualidade. A adoção cristã de práticas e conceitos pagãos parte
especialmente do tempo de Constantino. É verdade que a crença na imortalidade
da alma o antecede, mas devemos lembrar que, com Agostinho (354-430), ela
ganhou a forma definitiva de doutrina. Igualmente, a guarda do primeiro dia da
semana ocorria antes de Constantino, mas a igreja oficializou essa prática no
concílio de Laodicéia, ainda no quarto século. Ademais, foi Silvestre, bispo de
Roma no tempo de Constantino, que igualmente formalizou o nome domingo
para o dia do sol.
Por outro lado, a
preeminência do bispo de Roma, em prejuízo dos de Jerusalém, Antioquia,
Alexandria e Constantinopla, que também exerciam decidida influência no governo
da Igreja, tornou-se cada vez mais evidente. Durant nos informa que “a palavra papa,
ʻpaiʼ, era, nos primeiros três séculos, aplicada a qualquer bispo cristão.” Ibidem,
483. Mais tarde, naturalmente, o título se tornou exclusivo do bispo de Roma,
pois, em 533, Justiniano (527-565) o nomeou “cabeça de todas as igrejas cristãs”.
A essa altura, Constantinopla (hoje Istambul), e não mais Roma, era a sede do
governo imperial. Assim, a romanização do cristianismo acontecia, e o caminho
ficava franqueado para o surgimento do sistema papal de governo eclesiástico na
antiga sede.
Como esse historiador
afirma, “quando o cristianismo conquistou Roma, a estrutura eclesiástica da
igreja pagã, o título e as vestes do pontifex maximus, a adoração da
Grande Mãe e de uma multidão de divindades reconfortadoras, o senso de
presenças supersensíveis espalhadas por toda parte, a alegria ou a solenidade
dos velhos festivais e procissões passaram como sangue maternal para a nova
religião − e a vencida Roma capturou seu conquistador [isto é, Roma pagã se
incorporou na Roma cristã]. As rédeas do governo foram transmitidas por um
governo moribundo a um papado forte.” Ibidem, 525.
Assim, a igreja “não se
limitou a tomar algumas formas e costumes religiosos da Roma pré-cristã − a estola
e outras vestes sacerdotais, o uso do incenso e da água benta nas purificações,
o círio e a luz perpetuamente acesa nos altares, a veneração dos santos, a
arquitetura da basílica, a lei romana como base da lei canônica, o título de Pontifex Maximus para o supremo
pontífice e, no quarto século, o latim como língua oficial da igreja. O grande
legado de Roma à igreja foi uma vasta estrutura de governo que, quando a
autoridade secular desabou, veio a se tornar a estrutura do governo
eclesiástico.” Ibidem, 484. Houve,
portanto, uma sequência natural entre os antigos imperadores de Roma e os papas
da igreja.
As profecias de Daniel
e do Apocalipse previram a apostasia e a restauração da verdade. A reforma
protestante do século 16, naturalmente, foi referida, mas elas realçam o
aspecto escatológico da restauração, isto é, sua ocorrência nos dias finais da
história. Daniel 7 fala do poder romano agindo contra Deus e Seu povo, e
intentando mudar Sua lei (v. 25), alusão à mudança do dia de guarda do sábado,
como prescreve o quarto mandamento bíblico, para o domingo, como determina o
terceiro mandamento do catecismo. A própria Igreja Romana assume a
responsabilidade dessa mudança: “A Igreja Católica, mais de mil anos antes de
um único protestante [...] mudou o dia de sábado para o domingo.” Catholic Mirror, 23 de setembro de 1893.
Daniel 8 fala do mesmo
poder derrubando a verdade e fazendo prosperar o engano (vv. 12, 25); também
predisse que, ao fim de 2.300 dias, a verdade seria restaurada (v. 14). Em
1844, quando este período terminou, surgiram os adventistas do sétimo dia para
cumprir sua missão mundial. Daniel 12:4, 9 e 10 previu um despertamento no “tempo
do fim” para o estudo das Escrituras, com atenção voltada às profecias, o que
resultaria numa ênfase maior à volta de Jesus e à necessidade do preparo para
esse evento. Isso ocorre em nossos dias.
Por sua vez, o
Apocalipse trata da apostasia, principalmente nos capítulos 12 e 13; mas fala a
seguir de uma obra final e mundial de restauração pela proclamação de uma
mensagem tríplice (14:6-11) conclamando o mundo à adoração do Criador dos Céus
e da Terra (do que a guarda do sábado é um memorial [ver Êxodo 20:8-11]), “porque
chegada é a hora do Seu juízo”, e advertindo a todos contra os enganos de
Babilônia e da primeira e segunda bestas, símbolos das forças operadoras da
apostasia. O profeta vê, então, o povo de Deus guardando os Seus mandamentos
(v. 12), isto é, a Igreja novamente sustentando as verdades divinas, como fazia
no primeiro século. Em seguida, o quadro da volta de Jesus, com o galardão aos
justos e a punição aos ímpios, se espelha diante do profeta (vv. 14-20). Com
efeito, ocorrida a restauração da verdade, Cristo regressará, como Pedro afirma
em Atos 3:20, 21, evocando a predição de antigos profetas. Jesus também
assegurou que o genuíno “evangelho do reino” seria “pregado [...] por todo o
mundo, para testemunho a todas as nações” e que então viria “o fim” (Mt 24:14).
Hoje, a mensagem de
salvação está sendo pregada mundialmente. Falta pouco para essa obra seja
concluída e Cristo regresse em glória. Os tempos atuais são solenes e, mais que
nunca, devemos estudar a Bíblia para entender e viver suas preciosas verdades.
Falando da cidade que Deus preparou para os remidos, Isaías diz: “Uma forte
cidade temos, a que Deus pôs a salvação por muros e antemuros.” E o profeta,
então, registra a ordem que logo Jesus dará: “Abri as portas, para que entre
nela a nação justa, que guarda a fidelidade” (Is 26:2, 3).
Esse privilégio pode ser nosso!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMaravilhosa graça de Deus em dar ao ser humano contextos e oportunidades de perdão e restauração. Restaurando a verdade Ele restaura fiéis adoradores, salvos em potencial, herdeiros da graça e do amor do Pai.
ResponderExcluirEm toda a história humana Deus esteve buscando Seus filhos. Quero fazer parte da "nação justa, que guarda a fidelidade"!
Um abraço, pastor.