sexta-feira, 19 de abril de 2013


Tema 12
SETE GRANDES ATOS DE DEUS
NA HISTÓRIA – PARTE III
 
Dr. José Carlos Ramos
abril de 2013
 
            Até agora observamos cinco dos sete atos fundamentais de Deus na história para o cumprimento de Seu propósito de salvação: o concerto abraâmico, a saída de Israel do Egito, a libertação do cativeiro babilônico, a encarnação do Filho de Deus e o estabelecimento da Igreja Cristã. Observemos agora Seu sexto ato.
 
Ato 6: a restauração final da verdade
 
            Jesus afirmou que a trajetória da Igreja por este mundo seria marcada por dificuldades e perigos. "Se Me perseguiram a Mim, também perseguirão a vós", disse Ele (Jo 15:20). Nunca o verdadeiro cristão contou com o apoio do mundo. Mas houve épocas em que a perseguição foi mais duramente sentida. No primeiro século, por exemplo, "cadeias e tribulações" aguardavam os pregadores do evangelho de cidade em cidade (At 20:23). Do segundo ao quarto séculos, a perseguição se efetivou sob os imperadores romanos, cessando em 313 com o edito de Milão por Constantino.
O aspecto irônico da perseguição foi expresso por Jesus aos discípulos nestes termos: "Vem a hora em que todo o que vos matar julgará com isso tributar culto a Deus" (Jo 16:2). Isso foi sentido ainda no primeiro século, quando, em nome de Deus, os judeus se opuseram ao cristianismo. Mas o que Jesus disse se cumpriu mais amplamente na Idade Média quando o então dominante sistema eclesiástico romano, através do tribunal da Inquisição, executou milhares de dissidentes, alegando fazê-lo em favor da fé. Eram professos cristãos perseguindo e matando professos cristãos! A Igreja Romana se julgava no dever e no direito de corrigir e, se necessário, eliminar "hereges", cujo crime, na maioria das vezes, era contrariar os dogmas de Roma, e não as verdades da Bíblia. Ademais, Jesus nunca conferiu à Igreja o poder da espada para corrigir eventuais erros entre Seus seguidores, pois a disciplina eclesiástica é sempre de natureza espiritual.
            Mas, por mais dura que fosse a perseguição, ela nunca destruiu a Igreja. Ao contrário, Tertuliano afirmou que o sangue dos cristãos era qual semente. Quanto mais derramado, mais se multiplicavam. Jesus, todavia, previu que outra situação, pior que a perseguição, ameaçaria a integridade da Igreja: a apostasia, o desvio da verdade mediante a adoção de conceitos pervertidos. “Levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos” (Mt 24:11, 12). A expressão “de quase todos” significa que um grupo permaneceria fiel, representando a verdadeira Igreja até o fim (v. 13). Deus sempre teve filhos leiais, e nunca o mundo ficou sem o testemunho da verdade.
            A pena apostólica também se referiu à apostasia. “Haverá tempo”, disse Paulo, “em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças [...] e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2Tm 4:3, 4). Aos bispos da igreja de Éfeso afirmou: “Eu sei que depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes que não pouparão o rebanho. E dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles” (At 20:29, 30). A expressão “depois da minha partida” pode se referir à morte de Paulo e, de forma mais ampla, ao término da era apostólica; “dentre vós mesmos” indica que a apostasia partiria da liderança.
            A Igreja sempre foi ameaçada por ensinos deturpados. Mas, no primeiro século, a orientação apostólica os coibiu. Paulo, contudo, declarou que já no seu tempo “o mistério da iniquidade” operava aguardando condições para pleno desenvolvimento (2Ts 2:7, 8). Conceitos mundanos tentaram em vão adentrar os arraiais cristãos no primeiro século. Mas, a partir do segundo século, os apologistas cristãos acabaram conciliando doutrinas pagãs e cristãs. A teoria platônica da imortalidade da alma, por exemplo, foi assumida, obscurecendo uma das verdades basilares do evangelho, a ressurreição salvífica no dia da volta de Jesus, e abrindo espaço para teorias decorrentes, como a punição contínua do ímpio no inferno e o eterno descanso do justo no Céu, ambos iniciando com a morte.
            Mas as condições para que a apostasia se manifestasse plenamente só vieram com o fim da intolerância imperial. Foram se cristalizando a partir da pretendida conversão de Constantino (306-337) em 313. Ele, de fato, viveu como pagão, pois pediu o batismo apenas na hora da morte. As moedas que cunhou traziam de um lado o nome Cristo e, do outro, a figura do sol com a inscrição “Sol Invicto”, usada no culto a Mitras, praticado em todo o império.
            Em 321, promulgou um decreto que requeria a guarda do domingo, em cujo texto esse dia é identificado por seu antigo nome, dies solis, o dia do sol. Em realidade, esse decreto foi um importante passo para que o primeiro dia da semana fosse afinal estabelecido oficialmente como dia de guarda na cristandade em lugar do sétimo dia, como determina a Bíblia. Para Constantino, foi mais uma forma de obter o apoio de cristãos e pagãos e consolidar o seu governo. Falando da conversão desse imperador, o historiador Will Durant pergunta: “Seria sincera tal conversão, um ato de fé religiosa, ou um golpe de habilidade política? Essa hipótese é a mais aceitável.” História da Civilização: César e Cristo (Rio de Janeiro: Record, 1971), 3:512.
            Apoiada pelo Estado, a Igreja cresceu em número e declinou em espiritualidade. A adoção cristã de práticas e conceitos pagãos parte especialmente do tempo de Constantino. É verdade que a crença na imortalidade da alma o antecede, mas devemos lembrar que, com Agostinho (354-430), ela ganhou a forma definitiva de doutrina. Igualmente, a guarda do primeiro dia da semana ocorria antes de Constantino, mas a igreja oficializou essa prática no concílio de Laodicéia, ainda no quarto século. Ademais, foi Silvestre, bispo de Roma no tempo de Constantino, que igualmente formalizou o nome domingo para o dia do sol.
            Por outro lado, a preeminência do bispo de Roma, em prejuízo dos de Jerusalém, Antioquia, Alexandria e Constantinopla, que também exerciam decidida influência no governo da Igreja, tornou-se cada vez mais evidente. Durant nos informa que “a palavra papa, ʻpaiʼ, era, nos primeiros três séculos, aplicada a qualquer bispo cristão.” Ibidem, 483. Mais tarde, naturalmente, o título se tornou exclusivo do bispo de Roma, pois, em 533, Justiniano (527-565) o nomeou “cabeça de todas as igrejas cristãs”. A essa altura, Constantinopla (hoje Istambul), e não mais Roma, era a sede do governo imperial. Assim, a romanização do cristianismo acontecia, e o caminho ficava franqueado para o surgimento do sistema papal de governo eclesiástico na antiga sede.
            Como esse historiador afirma, “quando o cristianismo conquistou Roma, a estrutura eclesiástica da igreja pagã, o título e as vestes do pontifex maximus, a adoração da Grande Mãe e de uma multidão de divindades reconfortadoras, o senso de presenças supersensíveis espalhadas por toda parte, a alegria ou a solenidade dos velhos festivais e procissões passaram como sangue maternal para a nova religião − e a vencida Roma capturou seu conquistador [isto é, Roma pagã se incorporou na Roma cristã]. As rédeas do governo foram transmitidas por um governo moribundo a um papado forte.” Ibidem, 525.
            Assim, a igreja “não se limitou a tomar algumas formas e costumes religiosos da Roma pré-cristã − a estola e outras vestes sacerdotais, o uso do incenso e da água benta nas purificações, o círio e a luz perpetuamente acesa nos altares, a veneração dos santos, a arquitetura da basílica, a lei romana como base da lei canônica, o título de Pontifex Maximus para o supremo pontífice e, no quarto século, o latim como língua oficial da igreja. O grande legado de Roma à igreja foi uma vasta estrutura de governo que, quando a autoridade secular desabou, veio a se tornar a estrutura do governo eclesiástico.” Ibidem, 484. Houve, portanto, uma sequência natural entre os antigos imperadores de Roma e os papas da igreja.
            As profecias de Daniel e do Apocalipse previram a apostasia e a restauração da verdade. A reforma protestante do século 16, naturalmente, foi referida, mas elas realçam o aspecto escatológico da restauração, isto é, sua ocorrência nos dias finais da história. Daniel 7 fala do poder romano agindo contra Deus e Seu povo, e intentando mudar Sua lei (v. 25), alusão à mudança do dia de guarda do sábado, como prescreve o quarto mandamento bíblico, para o domingo, como determina o terceiro mandamento do catecismo. A própria Igreja Romana assume a responsabilidade dessa mudança: “A Igreja Católica, mais de mil anos antes de um único protestante [...] mudou o dia de sábado para o domingo.” Catholic Mirror, 23 de setembro de 1893.
            Daniel 8 fala do mesmo poder derrubando a verdade e fazendo prosperar o engano (vv. 12, 25); também predisse que, ao fim de 2.300 dias, a verdade seria restaurada (v. 14). Em 1844, quando este período terminou, surgiram os adventistas do sétimo dia para cumprir sua missão mundial. Daniel 12:4, 9 e 10 previu um despertamento no “tempo do fim” para o estudo das Escrituras, com atenção voltada às profecias, o que resultaria numa ênfase maior à volta de Jesus e à necessidade do preparo para esse evento. Isso ocorre em nossos dias.
            Por sua vez, o Apocalipse trata da apostasia, principalmente nos capítulos 12 e 13; mas fala a seguir de uma obra final e mundial de restauração pela proclamação de uma mensagem tríplice (14:6-11) conclamando o mundo à adoração do Criador dos Céus e da Terra (do que a guarda do sábado é um memorial [ver Êxodo 20:8-11]), “porque chegada é a hora do Seu juízo”, e advertindo a todos contra os enganos de Babilônia e da primeira e segunda bestas, símbolos das forças operadoras da apostasia. O profeta vê, então, o povo de Deus guardando os Seus mandamentos (v. 12), isto é, a Igreja novamente sustentando as verdades divinas, como fazia no primeiro século. Em seguida, o quadro da volta de Jesus, com o galardão aos justos e a punição aos ímpios, se espelha diante do profeta (vv. 14-20). Com efeito, ocorrida a restauração da verdade, Cristo regressará, como Pedro afirma em Atos 3:20, 21, evocando a predição de antigos profetas. Jesus também assegurou que o genuíno “evangelho do reino” seria “pregado [...] por todo o mundo, para testemunho a todas as nações” e que então viria “o fim” (Mt 24:14).
            Hoje, a mensagem de salvação está sendo pregada mundialmente. Falta pouco para essa obra seja concluída e Cristo regresse em glória. Os tempos atuais são solenes e, mais que nunca, devemos estudar a Bíblia para entender e viver suas preciosas verdades. Falando da cidade que Deus preparou para os remidos, Isaías diz: “Uma forte cidade temos, a que Deus pôs a salvação por muros e antemuros.” E o profeta, então, registra a ordem que logo Jesus dará: “Abri as portas, para que entre nela a nação justa, que guarda a fidelidade” (Is 26:2, 3).
Esse privilégio pode ser nosso!

2 comentários:

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  2. Maravilhosa graça de Deus em dar ao ser humano contextos e oportunidades de perdão e restauração. Restaurando a verdade Ele restaura fiéis adoradores, salvos em potencial, herdeiros da graça e do amor do Pai.
    Em toda a história humana Deus esteve buscando Seus filhos. Quero fazer parte da "nação justa, que guarda a fidelidade"!
    Um abraço, pastor.

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