quarta-feira, 18 de junho de 2014

O Livro das Bem-Aventuranças - parte 3

Tema 27


O Livro das Bem-Aventuranças - parte 3

Dr. José Carlos Ramos
Junho de 2014


            Deus registra sete maravilhosas bem-aventuranças no Apocalipse e nos assegura que, apesar dos conturbados dias em que vivemos, podemos desfrutar a genuína felicidade, a nós garantida pelo sacrifício de Jesus.
            Como visto na postagem anterior, a primeira dessas bem-aventuranças é proferida em favor daqueles que estudam as profecias bíblicas “e guardam as coisas nelas escritas” (Ap 1:3), em razão de estar próximo a chegada do Reino de Deus. Se queremos ser felizes agora, temos que nos familiarizar com os propósitos divinos de salvação. Em breve Jesus voltará a Terra para buscar os Seus seguidores, e cumpre-nos estar preparados para o encontro com Ele. Inegavelmente o conhecimento da Bíblia e a aplicação de Seus ensinos à vida são fundamentais para este preparo.

Bem-Aventurados os Que Morrem

            Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham. (Ap 14:13)
            A segunda bem-aventurança apocalíptica envolve o temido evento da morte. É maravilhoso ver como Deus, através do plano da redenção, conseguiu transformar um veículo de tristeza, dor e decadência, num fator de exultação e triunfo. Não que a morte por si mesma seja uma vitória, ou meio de salvação. A única morte que salva é a de Jesus, e o genuíno crente quando morre tem sua salvação assegurada; portanto, é bem-aventurado.
             Porque a morte de Jesus é a única que salva, são felizes somente aqueles que “morrem no Senhor”. Morrer no Senhor é morrer crendo nEle, tendo-O aceitado como Salvador pessoal e Senhor da vida. Os que morrem “no Senhor” não ficarão para sempre na sepultura. Ressuscitarão no dia de Sua volta para se encontrar com Ele e permanecer com Ele para sempre (1Ts 4:16 e 17). Pode haver certeza mais confortadora?
            Ao contrário da morte significar o fim de todas as coisas, ela é apenas uma pausa até que Jesus retorne; um merecido descanso para aqueles que fielmente labutaram por Ele nesse mundo. O Apocalipse toca esse ponto ao considerar felizes os que  “morrem no Senhor,... para que descansem das suas fadigas”. Também aqui o Apocalípse faz coro com outras partes do Novo Testamento, onde a morte é comparada ao sono (ver Jo 11:11, 14; 1Co 15:51; 1Ts 4:13, 15). Da mesma forma que depois de um dia de trabalho recolhemo-nos ao leito para o repouso da noite, confiantes que, ao despertar, estaremos revigorados para um novo dia, assim os que morrem em Jesus adormecem para serem despertados na manhã da ressurreição, para viverem a vida eterna.

Morte e Ressurreição

            A Bíblia não reconhece que o crente entra na glória imediatamente ao morrer, como determina o conceito popular da imortalidade da alma. Se tal realmente ocorresse, o Apocalipse simplesmente o declararia em sua segunda bem-aventurança, pois, não há, afinal, bem-aventurança maior que nos unirmos a Jesus em Seu reino. Deveríamos então ler que bem-aventurados são os que morrem no Senhor porque se transladam para o céu. Mas não é isso o que está escrito. Em consonância com o restante do Novo Testamento, o Apocalipse igualmente afirma que será exclusivamente através da ressurreição que finalmente os remidos passarão a reinar com Cristo (20:6).
            Isto foi exatamente o que Jesus prometeu quando esteve entre nós: “A vontade de quem Me enviou é esta: que nenhum Eu perca de todos os que Me deu; pelo contrário, Eu o ressuscitarei no último dia. De fato a vontade de Meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer, tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia.” (Jo 6:39, 40; ver também o v. 44. Grifos acrescentados). Prometeu ainda que os crentes, de fato, subirão à casa do Pai, mas somente ao vir buscá-los (Jo 14:1-3). Não faz sentido a promessa de que Jesus virá para levar os remidos para o Céu, se eles já se encontram lá antes que Ele volte.
            Segundo Paulo, os crentes aguardam o momento da volta de Jesus para só então serem revestidos de imortalidade (1Co 15:52, 53), e  se reunirem com Ele (1Ts 4:16, 17). Isto é tão certo que o apóstolo chega a afirmar que, não havendo ressurreição, os que “morreram em Cristo pereceram” (1Co 15:18), ou “estão perdidos”, como registram algumas versões. Em outras palavras, a recepção e o desfruto da imortalidade se efetivam exclusivamente a partir da ressurreição que ocorrerá quando Jesus voltar. Se Ele não retornar para ressuscitar os que morreram na fé, ninguém está salvo nem se salvará. Mas, graças a Deus, Ele irá voltar.

“Desde Agora”

            Naturalmente, os que em qualquer época morrem “no Senhor” são bem-aventurados. Mas o Apocalipse registra “os que morrem desde agora”. Desde agora quando? O contexto literário dessa bem-aventurança responde a questão. Os sete versos anteriores falam de uma tríplice mensagem angélica sendo proclamada em todo o mundo (Ap 14:6-12). Como o quadro apocalíptico imediato é o da volta de Jesus (vv. 14-16), entendemos que ela sintetiza a última mensagem de salvação a ser proclamada antes que venha o fim.
            A primeira destas mensagens anuncia a chegada da hora do juízo e conclama a humanidade a temer a Deus, e a dar-lhe glória e adorá-lO (v. 7). A segunda e terceira advertem a todos contra os enganos de Babilônia, a adoração à besta e à sua imagem, e a recepção de sua marca na testa ou na mão (vv. 8-11). É a maneira do Apocalipse se referir à operação de poderes anticristãos nos últimos dias (prontos a efetuar sua terrível obra de engano e destruição) e à necessidade de não nos deixarmos iludir.
            Um estudo de profecias pertinentes a estes temas, principalmente no livro de Daniel, leva-nos à conclusão de que estas mensagens passaram a ser pregadas a partir de 1844, ano em que, de acordo com estas profecias, teve início a obra do julgamento divino no céu e da restauração das verdades bíblicas na Terra. Portanto, é especificamente aos que morrem no Senhor a partir desse tempo que a segunda bem-aventurança apocalíptica se aplica em especial. Este fato está em paralelo com a bem-aventurança de Daniel 12:12: “Bem-aventurado o que espera e chega até mil trezentos e trinta e cinco dias”, período que nos conduz igualmente ao tempo aqui referido.
            Mas por que são bem-aventurados os que morrem no Senhor desde 1844? Pelo menos cinco razões podem ser sugeridas como resposta: (1) não morrem sem primeiro testemunhar o processo de restauração das verdades de Deus, as quais, por um bom tempo antes, estiveram jogadas por terra (ver Dn 8:12); (2) morrem na certeza de que os propósitos divinos de salvação estão para ser consumados, segundo é indicado pelo cumprimento das profecias referentes aos últimos dias da História; (3) são recolhidos antes que sobrevenha o terrível “tempo de angústia”, ou da “grande tribulação”, que antecederá a volta de Jesus (Dn 12:1; Ap 7:14); (4) morrem para serem imediatamente vindicados pelo grande Juiz; e (5) ressuscitarão um pouco antes dos demais salvos, para contemplar, em todo o seu esplendor, a volta de Jesus a este mundo (Dn 12:2).

Conclusão


            Aceitar a Jesus como Salvador é o maior privilégio conferido a mortais, porque a fé fundamentada nEle avança triunfante para além da morte, e colocará seu possuidor na companhia de Deus no Reino eterno. Com efeito, os que morrem no Senhor são bem-aventurados porque nada deste mundo, nem mesmo a morte, será capaz de separá-los “do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 8:38, 39). Glória, pois, ao Seu nome!